domingo, 22 de janeiro de 2012

DESPORTO E CONFLITO - III

O desporto é encarado, hoje em dia, não só como uma atividade destinada ao lazer mas, sobretudo, como um negócio, uma profissão que permite aos seus atletas, treinadores e dirigentes arrecadarem milhares de euros. Neste sentido, o conflito é muitas vezes motivado pela procura do lucro e, portanto, dos melhores resultados.
A psicologia moderna já não encara o conflito de forma tão drástica, podendo até dizer-se que estamos na presença de um conflito em qualquer situação de tensão e de discrepância entre fações, sendo, em parte, positiva, pois gera mudança e desenvolvimento; se para haver conflito há que haver interação, uma relação próxima entre as partes; se o conflito é sempre desencadeado por uma série de motivos; se o conflito gera avaliações; se o conflito reforça a identidade do grupo; se o conflito aumenta a coesão do endogrupo; se o conflito aumenta a rejeição o exogrupo, então, claramente, a competição desportiva é uma forma dissimulada de conflito.
Tomemos como exemplo um jogo entre duas equipas de voleibol. Embora as equipas possam não enveredar em cenas de pancadaria ou insultar-se mutuamente, obviamente se verificará um clima de tensão, próprio de dois intervenientes opostos que se preparam para um confronto. Por outro lado, é evidente que entre as duas equipas se estabelece uma relação próxima de interação, pois estão a competir uma contra a outra. Instala-se o conflito, desencadeado pela competição pelo poder e pela incompatibilidade de objetivos, gerando-se consequentemente o reforço da identidade de cada equipa, o aumento da coesão do endogrupo, ou seja, da própria equipa, e o aumento da rejeição do exogrupo, portanto, da equipa adversária. Contudo, menciono mais uma vez o aspeto positivo do conflito, pois permite a evolução e a mudança, neste caso a determinação, o esforço e o empenho necessários, por parte de cada equipa, para vencerem o encontro, para se mostrarem “melhores”.
Tudo o que referi tem um mentor, Muzafer Sherif. A sua experiência no campo de férias de verão com duas equipas de rapazes, entre os 11 os 12 anos, permitiu desenvolver todos estes fundamentos e evidencia, particularmente, a questão da competição desportiva, uma vez que, na segunda fase da sua experiência, a hostilidade e a rivalidade entre os dois grupos foram desencadeadas, precisamente, por competições como partidas de futebol, puxar a corda e outros jogos que proporcionavam prémios e troféus à equipa vencedora, sendo atribuídas recompensas a cada elemento individualmente. Não será o que acontece hoje em dia? Nas competições desportivas ganha-se de modo coletivo e, principalmente, de forma individual – motivações geradoras de conflito. 


                                                                                        Mara Sousa, n.º 12, 12.º C

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